Eu sei que faz tempo que não envio newsletter. Vou tentar estabelecer uma melhor regularidade por aqui de agora em diante. Por ora, vou seguir a conversa como se nada tivesse acontecido. Acho que é melhor do que ter que me explicar toda vez. Sigamos, então.
Desde o ano passado, tenho tentado registrar todas as minhas leituras. Comecei com resenhas individuais no Instagram, mas percebi que isso tomava um tempo que nem sempre eu tinha. Além disso, eu não gosto muito de fazer críticas negativas a livros. Ao mesmo tempo, eu não conseguiria dizer nada de positivo de alguns dos livros que eu li. Para contornar isso, optei por posts mensais onde listo os livros lidos e recomendo a leitura dos que eu gostei mais. Isso me permite elogiar o que quero elogiar, sem ter que criticar o que eu não curti tanto. Uma solução bem libriana.
Com isso, consegui fechar a leitura de 50 livros em 2022. Quero bater a mesma meta em 2023. Sem pressão, é claro, que a vida é urgente. Mas acho que estabelecer uma meta é útil e estimulante. Vamos ver o que dá.
Seguindo esse objetivo, comecei com cinco livros lidos em janeiro. Tenho sido bem chata na seleção do que vou ler, porque meu tempo é limitado e porque quero evitar travar (travo menos em leituras das quais eu gosto). Isso tem me proporcionado leituras que eu acabo avaliando bem, entre 4 e 5⭐. Dá muito aquela sensação de tempo bem empregado, sabe? Uma delícia.
Fiz um post com os livros lidos no Instagram, mas como há um limite para o tamanho da legenda, quis trazer para cá um comentário mais aprofundado sobre cada leitura, porque foram bem interessantes.
1. “Sobre o autoritarismo brasileiro”, Lilia M. Schwarcz
Este primeiro livro eu li por causa do debate no Clube de Leitura Bons Casmurros. Eu gostei da leitura - que intercalei com audiolivro porque não estava com tanto tempo até a data do debate. É um bom livro, especialmente para quem, como eu, precisava lembrar um pouco da história do Brasil para pensar a atualidade, o governo passado, a maluquice que vimos durante a passagem de um governo para outro.
O livro tem algumas limitações, levantadas durante o debate - principalmente pela Ivana Veraldo, maravilhosa. Uma delas seria que, ao mesmo tempo em que critica a busca no passado de uma explicação para o presente, o livro faz mais ou menos isso, ao buscar no Brasil Colônia algumas explicações para o cenário atual.
Outra limitação é o livro ser um recorte - até por objetivo e extensão do livro, ele não explora quase nada de história recente (i.e., fala da atualidade, mas não de décadas recentes, nas quais aconteceu muita coisa que também influencia o cenário político atual). Apesar disso, o livro cumpre sua função e é uma leitura importante.
2. “O pacto da branquitude”, Cida Bento
Minha segunda leitura do mês veio na esteira da primeira. "O pacto da branquitude" foi indicado por um amigo, Elton Telles, quando comentei que estava lendo a Lilia. Nesse livro, Cida denuncia e questiona a universalidade da branquitude, seu pacto narcísico e suas consequências nocivas para qualquer mudança de fato na hierarquia das relações sociais.
Achei interessante que a autora parte de um lugar muito específico para falar sobre esse assunto: o RH. Ou seja, é a partir de como a branquitude e o racismo afetam o mercado de trabalho que ela expande o olhar sobre esse pacto que existe entre pessoas brancas em toda a sociedade. Eu gostaria muito que esse livro fosse de leitura obrigatória nas escolas, de verdade.
3. “O som do rugido da onça”, Micheliny Verunschk
Esse aqui eu estava doida para ler desde que ele levou o Jabuti de romance no ano passado - queria muito entender como ele derrubou meu favoritinho entre os indicados. O que descobri é que faz todo sentido ele ter levado o prêmio. Ele preenche toda a cartela: personagens e narrativa inovadores, linguagem refinada, uma belíssima construção enquanto livro... Bingo! Recomendo muitão.
A narrativa é uma versão ficcionalizada de uma história real. Lá nos primórdios da colonização, pesquisadores alemães levaram crianças indígenas para exibir/estudar na Europa. Entre as várias crianças levadas, apenas dois sobreviveram à difícil viagem marítima, um menino e uma menina. O romance, entre outras coisas, gira em torno dessa menina, que foi “onçada” quando era bem pequena. Para entender o que isso significa, vai ter que ler o livro, porque não vou explicar aqui. Mas vale muito a leitura, recomendo demais, então, vai na fé!
4. “Erva Brava”, Paulliny Tort
Li esse livro de contos por indicação da poeta Mayara Blasi, de quem também ganhei o livro. Ele é uma coletânea de contos muito bem escritos, incluindo narrativas bastante inusitadas, como a do conto "Má sorte", escrito em segunda pessoa e narrando uma situação cuja possibilidade eu já conhecia, mas que nunca tinha me tomado mais do que dois minutos de atenção. Paulliny me fez pensar em questões econômicas, éticas e biológicas a partir de uma cena bastante restrita, dentro de um silo de fazenda. Não passo disso no meu comentário, porque não quero estragar a experiência de leitura. A recomendação aqui é: leia. Por favor, leia.
4. “Todo dia a mesma noite”, Daniela Arbex
O quinto livro eu li motivada pelo lançamento da série homônima na Netflix. "Todo dia a mesma noite" é um excelente livro-reportagem que preserva um pouco da memória do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria - RS, que completa 10 anos neste ano de 2023. Foi uma leitura exasperante e emocionante, que eu conciliei com a série e algumas pesquisas pela internet. Além de ter uma enorme capacidade de fazer o leitor sentir-com a história, Arbex também acende nossa curiosidade, nos faz tomar o acontecimento narrado quase como uma vivência pessoal. Tive que me aprofundar na questão da boate Kiss - e ainda quero me aprofundar mais, porque, por exemplo, ainda não assisti à série documental na Globo Play (inclusive, aceito compartilhamento de senha para assistir, obrigada).
Enfim, foi esse meu primeiro mês do ano em livros. Fiquei bem satisfeita com a seleção que eu fiz e com meu ritmo de leitura neste mês. Espero continuar assim.
E você? Já leu algum desses? O que achou? Pretende ler algum?
Beijinhos por aí, e até a próxima!